Pelúcia de crochê, bolos com memes e velas aromáticas: conheça histórias de mulheres que transformaram criatividade em negócio lucrativo

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Conforme o Sebrae, no Tocantins mais de 40% dos empreendedores individuais são mulheres. Saiba como obter informações para empreender e formalizar serviço como MEI ou em microempresa. Empreendedoras de Palmas fazem sucesso com produtos criativos
Montagem/g1
Planejamento, formalização e plano de negócios não são os únicos pontos importantes para quem deseja empreender. Com boas ideias e criatividade, empreendedoras do Tocantins conseguem chamar atenção para os produtos, atrair clientes e aumentar as vendas e lucros.
Os produtos artesanais estão entre as principais atividades de pequenos empreendedores no Tocantins. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) explica que os pequenos negócios são importantes para a economia do Brasil e representam 99% das empresas brasileiras, além de 55% dos empregos formais e 30% do PIB. Veja ao fim da reportagem orientações sobre a abertura de empresas e como formalizar o negócio.
Para estimular novos empresários, o Sebrae tem diversos cursos e especializações. Alguns projetos são direcionados ao empreendedorismo feminino. No Tocantins, mais de 40% dos empreendedores individuais são mulheres. A gerente do Sebrae no Tocantins, Magvan Botelho, informou que o projeto Força Mulher, por exemplo, atendeu mais de 1,4 mil mulheres só em 2021.
“O Sebrae tem um leque de oportunidades. Temos uma atuação muito forte no artesanato onde muitas mulheres artesãs estão inovando, agregando valor e buscando incrementar a renda da família com produtos de qualidade”, explicou Magvan Botelho. (Veja o vídeo abaixo)
O g1 mostra nesta reportagem produtos feitos pelas mãos de mulheres em Palmas. Conheça as histórias de três empreendedoras que transformaram pelúcia de crochê, bolos com memes e velas aromáticas em negócios lucrativos.
Pelúcias de crochê
Karla Rayane faz amigurumis em Palmas
Karla Rayane/ Divulgação
Objetos artesanais de decoração viraram a fonte de renda da jovem Karla Rayane Brito. A microempreendedora que começou a crochetear em 2015, depois que ficou desempregada, faz produtos em casa e vende pela internet, em uma loja online. As peças são enviadas para todo o Brasil. Para se destacar no mercado ela apostou nos amigurumis – as pelúcias de crochê.
“Percebi que eles são os queridinhos do momento. Vendem bem e a procura não para. É ideal para crianças e bebês por ser extremamente macio e também para a decoração por trazer delicadeza ao ambiente. Juntei o útil ao agradável: trabalhar criando criaturas tão fofinhas enquanto gero o meu sustento”, disse Karla.
A jovem produz diferentes artes, que chamam atenção pela beleza, fofura, delicadeza e atenção aos detalhes. Os artesanatos decorativos e presenteáveis variam a personagens de filmes, plantas, animais e até frutos. A produção de ‘pequis beijoqueiros’ viralizou depois que o humorista Paulo Vieira fez uma publicação elogiando o produto.
‘Pequis beijoqueiros’ de crochê bombaram na internet
Montagem/g1
As produções de cactos, por exemplo, contam com detalhes como óculos, laços e chapéus minúsculos. Nas mãos de Karla o Jason Voorhees, personagem de um filme de terror, ganhou máscara, mini-sapatos e até uma faca. [veja abaixo]
“São artes únicas e que levam bastante tempo, atenção e estudo na sua confecção. São produzidos manualmente, na maioria das vezes com fio de algodão, usando o menor ponto da tabela do crochê, por isso são delicados e muito macios”, contou Karla.
Mas a ideia de trabalhar com amigurumis surgiu anos após a produção da primeira peça artesanal. O primeiro trabalho profissional foi feito na época em que Karla ficou desempregada. “O crochê veio como fonte de renda quando um amigo com os cabelos grandes me pediu uma tiara que evitasse a queda dos fios nos olhos. Esse foi meu primeiro produto. Depois vieram os pedidos de biquínis, tapetes e nunca mais parei de produzir”, afirmou Karla.
Cactos de crochê feitos em Palmas são enviados para todo o Brasil
Karla Rayane/ Divulgação
A jovem aprendeu técnica de amigurumis sozinha, com aulas gratuitas na internet, mas quando as demandas aumentaram ela precisou investir para entender a como vender de forma justa e lucrativa.
“Resolvi investir em cursos para aprender a transformar meu ateliê em um negócio. Essa era minha principal dificuldade. Controle de finanças, precificação adequada, gerenciamento de estoque, de redes. Tantas áreas de estudo que senti necessidade em investir em monitoria. Há seis meses venho implantando essas mudanças profissionais e tem dado muito certo. Aprendi a precificar baseando meu salário na quantidade de horas diárias que consigo trabalhar, além de considerar os custos fixos, fazer pesquisa de melhores fornecedores de materiais entre outras ações”, explicou.
Os valores das pelúcias mudam de acordo com o tamanho das peças e quantidade de horas que elas levam para serem produzidas. Os produtos variam de R$ 15 a R$ 300.
Personagem de filme de terror, Jason Voorhees
Karla Rayane/ Divulgação
Karla, que também é estudante de jornalismo, conta que as artes são feitas com muita dedicação e paciência. O trabalho artesanal que encanta os olhos de quem compra ou é presenteado também é especial para quem segura as agulhas e novelos por horas.
“Todos os detalhes são pacientemente tecidos e carregam muito significado e dedicação. É um presente diferenciado que não é encontrado em qualquer loja de departamento. É feito de um para outro. Por isso têm tanto significado”, disse a artesã.
Sapinhos de chocê são feitos por Karla
Karla Rayane/ Divulgação
Bentô cakes – os bolos com memes
Yanna Biatriz de Oliveira Góis, de 24 anos, abriu uma microempresa no ramo alimentício: a Yanna Góis Confeitaria. A empreendedora é psicóloga por formação, mas durante a pandemia viu nos ‘Bentô Cakes’ – bolinhos pequenos que cabem dentro de marmitas – uma oportunidade para trabalhar por conta própria e de forma criativa.
A jovem que vendia trufas recheadas no ensino médio e fazia bolos para familiares se especializou e agora consegue sustentar a casa e ainda gerar empregos formais.
“Percebi que podia ser um trabalho muito rentável e me deu na telha que eu iria trabalhar com isso. Eu comecei como MEI e hoje tenho uma equipe de quatro pessoas, contando comigo”, disse Yanna.
Yanna Góis abriu uma confeitaria
Arquivo pessoal
A empresa vende bolos inteiros e também fatias em diferentes tamanhos e sabores. A maior demanda é de Bentô Cakes. O grande diferencial são os recados e ilustrações que são feitos de acordo com a encomenda dos clientes. O sucesso está no sabor, capricho dos desenhos e das frases bem humoradas.
Os bolos são comprados para presentear quem faz aniversário, comemora outra data especial, ou por quem quer enviar algum recado em forma de comida. As encomendas com memes inusitados são postadas nas redes sociais da empresa, chamam atenção de internautas e ajudam a alavancar as vendas.
“Todos os dias a gente recebe diversas propostas de frases e desenhos. Já teve pedido de casamento, aviso de gravidez, mensagens de amor, de humor, pedido de desculpa, pedido de namoro, remissão de câncer. A gente já marcou muitas histórias”, disse Yanna.
Bolo foi encomendado para anunciar gravidez
Arquivo pessoal/Yanna Góis
Yanna Góes conta que a ideia surgiu a partir da demanda de uma cliente. “Ela precisava de um bolo para presentear uma pessoa e não queria que servisse mais gente. Já tinha alguns meses que tinha surgido a tendência no Brasil foi quando apostei no bentô cake. Publiquei nas redes sociais. Vieram frases inusitadas e algumas viralizaram. Foi aí que bombou”, disse Yanna.
Mas o negócio sempre foi cheio de desafios. Yanna conta que começou a fazer os bolos sozinha em 2020, no início da pandemia da Covid-19, depois que as atividades da faculdade de psicologia foram suspensas. “Eu não tinha muita perspectiva do que eu faria e foi quando eu senti que seria uma ocupação legal aprender algo novo. Sempre gostei de fazer bolos, recheios, e essa pegada de ver as pessoas comendo algo que eu faço sempre me agradou muito”, explicou.
Clientes pedem frases inusitadas em bolos
Arquivo pessoal/Yanna Góis
No início da pandemia a jovem fez cursos para se especializar e fez as primeiras produções para amigos e familiares. Na época ela também precisou investir em equipamentos de confeitaria.
“Formas e utensílios específicos, forno, batedeira planetária. Foi um período que eu investia um dinheirinho todos os meses para poder ter os instrumentos necessários que são extremamente caros. Foi um ano que me dediquei a colocar em prática os conhecimentos e fazer bolos para pessoas próximas. Bolos de tias, pai, irmão eu sempre fazia. E me planejei para começar a vender”, disse.
Durante o processo, a jovem contou com a internet para divulgar o trabalho. De forma inovadora ela conseguiu muitos seguidores e a divulgação nas redes sociais fez toda diferença. “Compartilhei tudo nas minhas redes sociais, desde o primeiro bolo, cada história que envolvia. Foi um canal que me possibilitou uma visibilidade muito boa”.
Bentô cakes fazem sucesso em Palmas
Arquivo pessoal/Yanna Góis
O negócio deu tão certo que atualmente esta é a única fonte de renda da confeiteira. Yanna não trabalha mais sozinha e agora conta com mais três pessoas na equipe. “São duas pessoas na cozinha. Uma pessoa é responsável pela produção de massas e recheios e outra é responsável pela finalização dos bentô cakes. Espatular os bolos e a escrita”, explicou.
A jovem disse que com a equipe não precisa colocar mais a mão na massa. “Hoje estou mais responsável pelos processos de marketing, atendimento ao cliente e processos de planejamento e supervisão das meninas na cozinha. Tudo é planejado por mim e precisa de uma supervisão para que tudo saia dentro dos conformes”, disse Yanna.
Bolos em marmitas são vendidos em confeitaria de Palmas
Arquivo pessoal/Yanna Góis
A jovem conta que aplica conhecimentos da psicologia nos negócios e se encanta com o sentimento de quem compra e é presenteado. “Na nossa cultura as comidas representam algo muito além de saciar fome. Envolve celebração, presente, significado, envolve uma memória. Quem pede um bentô cake quer demonstrar o seu amor, quer dizer que ama”, disse.
Das fatias individuais aos bolos maiores e com mais detalhes, os produtos variam de R$ 15,90 até R$ 265.
‘Segurando vela’
Ana Beatriz Aguiar de Freitas viu nas velas aromáticas a oportunidade de ter uma renda e ajudar pessoas. Apaixonada por trabalhos artesanais e por aromaterapia, a jovem que mora em Palmas criou a microempresa ‘Segurando Vela’. A empreendedora fabrica e vende os produtos de acordo com as cores, cheiros, personalidade e necessidade dos clientes.
Ana Beatriz Aguiar fabrica velas artesanais em Palmas
Arquivo pessoal
O trabalho surgiu no início da pandemia, quando ela usava as próprias velas para controlar sintomas de ansiedade. Na época ela percebeu que outras pessoas também procuravam métodos para ficarem calmas e relaxadas durante o isolamento social.
“Sempre gostei de aromaterapia é uma área que me encanta e que durante esse processo inicial de isolamento me ajudou muito nos momentos mais tensos e ansiosos. Encontrei nas velas a fusão perfeita de um produto que me acalmava e despertava a minha criatividade e passei a gostar tanto de fazer pra mim que senti vontade de vender. Meus e minhas clientes são pessoas que estão a procura de somar conforto e tranquilidade aos momentos do dia a dia ou momentos especiais”, disse Beatriz.
O nome da microempresa surgiu por causa das fotos que a jovem sempre aparece segurando as velas.
Jovem em Palmas produz e vende velas aromáticas
Arquivo pessoal
As velas são vendidas separadamente ou em kits para datas comemorativas. Nos dias dos namorados, por exemplo, os kits são montados em caixas com mensagens românticas. No Natal as velas são persolanizadas e ganham fitas coloridas e cartões. Os preços dos produtos variam de R$ 15 a R$ 60.
A jovem explica que no início a produção era intuitiva, mas quando decidiu comercializar surgiu a necessidade de aprender mais. “Eu queria ter um bom produto e técnicas que facilitassem meu trabalho, então fiz cursos online para a produção de velas e me dediquei a aprender como administrar uma conta no Instagram e atender clientes”, explicou.
Velas aromáticas viraram fonte de renda de jovem em Palmas
Arquivo pessoal
A pequena empreendedora vende os produtos pela internet – que podem ser enviados para todo o Brasil – em casa e também em uma feira itinerante de mulheres artesãs. Beatriz conta que é feliz por ver o negócio artesanal e terapêutico auxiliando nas despesas de casa e também ajudando pessoas.
O objetivo é continuar trabalhando para atrair clientes e aumentar as vendas.
“O lucro da loja é importante para a minha renda e contribui com a minha autonomia. Tenho muitas clientes fiéis que estão comigo desde o começo e sempre chega gente nova o que me anima muito também. Eu sou a dona e única funcionária, mas eu amo e pretendo um dia aumentar a equipe”, afirmou.
Velas aromáticas são feitas de acordo com pedidos de clientes
Arquivo pessoal
Estímulo aos pequenos negócios
Apesar da ideia e força de vontade, muitos empreendedores não sabem por onde começar. Para ajudar e estimular novos negócios, o Sebrae oferece atendimento, dá dicas, orientações, planos de negócio e oferece até cursos sobre planejamento, gestão financeira, estratégia de marketing, entre outros.
A gerente do Sebrae Tocantins explica que o principal desafio para tirar uma ideia do papel e empreender é o planejamento.
“Principalmente pensando nas mulheres que têm multiplas atividades, além de ser mães, são donas de casa. Gerir uma empresa exige conhecimento e o Sebrae tem um leque de oportunidades”, disse Magvan Botelho.
Gerente do Sebrae Tocantins diz que projetos ajudam mulheres a empreender
Os atendimentos são para quem deseja ser Microempreendedor Individual ou abrir uma microempresa. Algumas ações são pensadas nas mulheres. – Atualmente o país conta com mais de 9 milhões de empreendedoras.
Formalização
A abertura e o gerenciamento de um novo negócio exigem um conjunto de habilidades e conhecimentos, como entender o mercado, o público e planejar bem cada etapa. Conforme o Sebrae, é importante seguir seis passos:
Saber que negócio abrir
Saber se você tem perfil
Reunir informações sobre o negócio
Organizar-se
Entender como obter crédito
Colocar a mão na massa
Conheça a diferença entre ser um Microempreendedor Individual (MEI) e abrir uma microempresa e como formalizar os negócios:
Microempresa: Para uma microempresa funcionar no Brasil é preciso, entre outras providências, possuir registro na prefeitura da cidade onde ela funcionará, no estado, na Receita Federal e na Previdência Social. Dependendo da atividade, pode ser necessário também o registro em órgãos de fiscalização. É importante entender quais são os custos, impostos, modalidades. Veja detalhes aqui
MEI: Se a sua opção for fazer o registro como Microempreendedor Individual (MEI), o processo é bem mais simples e menos burocrático, realizado totalmente online. É importante conhecer os critérios, leis, atividades permitidas e ter todas as informações em mãos para se tornar um empreendedor. Saiba tudo sobre o MEI, clicando aqui.
Magvan Botelho afirma que a facilidade em ter acesso a informação ajuda milhares de mulheres a darem o primeiro passo e empreender.
“Por isso temos esse atendimento diferenciado, para que essas mulheres consigam melhorar a renda familiar com aquilo que elas gostam de fazer e para que a nossa economia seja movimentada e que a gente possa gerar emprego e renda através do empreendedorismo feminino”, explicou a gerente do Sebrae no Tocantins.
Sebrae auxilia mulheres que querem ser empreendedoras
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Fonte: G1 Tocantins