Os indígenas exigem a redução do preço dos combustíveis e a renegociação das dívidas dos trabalhadores rurais com os bancos. Carro de polícia vandalizado em Quito em 14 de junho de 2022
Cristina Vega Rhor / AFP
No terceiro dia de protestos contra o governo no Equador, os manifestantes chegaram à capital, Quito, mesmo depois da liberação do líder Leonidas Iza.
Nesta quarta-feira (15), Iza foi liberado por ordem judicial. Ele é acusado de paralisar o transporte público. Ele é engenheiro um ambiental de 39 anos que preside a Confederação das Nacionalidades Indígenas (Conaie).
As manifestações continuaram mesmo após a soltura de Iza (leia mais sobre o líder abaixo).
Caravana chega a Quito para manifestações, em 15 de junho de 2022
Veronica Lombeida/ AFP
Os indígenas exigem a redução do preço dos combustíveis e a renegociação das dívidas dos trabalhadores rurais com os bancos.
A Conaie também protesta contra a falta de empregos e a concessão de licenças de mineração em territórios indígenas, além de exigir um controle de preços dos produtos agrícolas.
A população indígena, que representa um milhão dos 17,7 milhões de habitantes do Equador, propõe que o preço do combustível seja reduzido para US$ 1,50 dólares de 3,78 litros de diesel, e US$ 2,10 para gasolina de 85 octanas.
O valor do diesel quase dobrou (de US$ 1 para US$ 1,90) e a gasolina subiu 46% (de US$ 1,75 para US$ 2,55) entre maio de 2020 e outubro de 2021.
Mobilização em Quito
Dezenas de pessoas, algumas a pé e outras em caminhões, entraram por uma avenida do sul da capital para se instalar no centro histórico, onde é a sede do Executivo. A mobilização policial e militar é maior que o comum.
Nos arredores de Quito, também houve manifestações de transportadores de carga, que exigem um aumento nas tarifas de frete. Uma longa fila de caminhões e alguns pneus em chamas bloqueavam a entrada pelo sul.
O ministro do Interior, Patricio Carrillo, disse à imprensa que o governo tem controle sobre a marcha. “Podemos garantir que conteremos a violência com o uso progressivo (da força), com a firmeza exigida pelo Equador”, disse ele.
Os primeiros dois dias de manifestações deixaram cerca de US$ 20 milhões em prejuízos econômicos, segundo Miguel González, chefe do Comitê Empresarial Equatoriano.
Estradas interditadas
A Confederação das Nacionalidades Indígenas (Conaie) afirmou que a greve continua. Cerca de 9.300 pessoas participaram dos bloqueios de estradas em 14 das 24 províncias nesta quarta-feira.
As Forças Armadas informaram que dez soldados ficaram feridos —segundo a versão do exército, eles tentavam impedir que manifestantes tomassem uma estação de petróleo.
Histórico de manifestações no Equador
Em 2019, Quito foi palco de protestos liderados pelo movimento indígena durante mais de uma semana. Onze pessoas morreram nos confrontos daquele ano. As manifestações obrigaram o então presidente Lenín Moreno a manter subsídios milionários aos combustíveis (o plano dele era cortar os subsídios, o que encareceria o preço).
Veja abaixo um vídeo sobre essas manifestações de 2019.
Presidente do Equador volta para Quito após uma semana
Entre 1997 e 2005, a Conaie participou em protestos que derrubaram três presidentes.
Destino de Iza
Iza, o líder da Conaie que ficou preso, deverá se apresentar ao Ministério Público dois dias por semana até 4 de julho, quando começará seu julgamento pela suposta paralisação de um serviço público. Esse crime é sancionado com até três anos de prisão.
Iza lidera as manifestações contra o governo do presidente Guillermo Lasso.
Carrillo, o ministro do Interior, comemorou a decisão do tribunal de processar Iza pela suposta paralisação do serviço de transporte público com o bloqueio de rodovias.
“A administração da justiça declarou que a detenção do senhor Iza é legal, em primeiro lugar. Em segundo lugar, abriu uma investigação fiscal” contra o líder, disse o ministro.
Iza foi preso na terça-feira em meio a brigas com policiais e militares. A Conaie afirmou que a detenção foi “violenta, arbitrária e ilegal”.
O líder foi recebido por alguns apoiadores com abraços. Uma indígena se aproximou de Iza e fez uma “limpeza”, que consiste em passar plantas consideradas medicinais sobre o corpo.
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Fonte: G1 Mundo