Escritor e desenhista concorreu à cadeira 8 da ABL, mas vaga ficou com o filólogo Ricardo Cavaliere. Mauricio de Sousa: obra do cartunista chega a 30 países.
Claudio Belli/ Divulgação MSP
O autor e desenhista Mauricio de Sousa não conquistou a vaga à Academia Brasileira de Letras (ABL) nesta quinta-feira (27), mas afirmou ao g1 que está tranquilo e continuará fazendo o que mais gosta: “Conquistar leitores e ajudar a alfabetizar crianças no Brasil”.
O criador da Turma da Mônica é membro da Academia Paulista de Letras (APL).
Em vídeo, o pai da Turma da Mônica parabenizou Cavalieri por sua entrada na ABL e comentou sobre o processo de eleição à vaga. Confira a íntegra abaixo:
“Quero parabenizar o novo acadêmico Ricardo Cavalieri por sua entrada na ABL. Nesse processo, todos que amam quadrinhos, eu incluído, ganhamos quando tanto se discutiu sobre a importância dos quadrinhos, seu papel fundamental na formação de leitores e como eles podem contribuir, de diversas formas, com a literatura. Agradeço de coração os apoios que recebi nesta campanha e aos que me honraram com seu voto, acreditando na minha proposta para a ABL. Continuarei nesta ideia de trabalhar e aprender com os acadêmicos, assim como vem acontecendo na Academia Paulista de Letras. Um grande abraço a todos que lutam pela valorização dos autores e, principalmente, pela formação de leitores neste nosso Brasil”.
A disputa
O segundo autor vivo mais conhecido do Brasil, de acordo com pesquisa Ibope de 2019, atrás apenas de Paulo Coelho, levou com bom humor o argumento levantado por um dos seus concorrentes. À “Veja”, o jornalista James Akel, que também tenta ocupar a cadeira, afirmou que “gibi não é literatura”.
No último dia 14, à revista, Akel disse que decidiu tentar a vaga ao saber que Mauricio escreveu em sua carta de candidatura que “quadrinhos são literatura pura”. “Isso me deixou zangado e decidi me inscrever imediatamente”, disse o jornalista.
Mauricio simplesmente riu quando questionado sobre o assunto. Contou como a internet reagiu em sua defesa, bem como fãs, colunistas, autores e jornalistas.
Segundo um membro da Academia Paulista de Letras (APL) que prefere não se identificar, o ataque a Mauricio foi uma tática “para aparecer”. Aos 87 anos, Mauricio é o único quadrinista do mundo a integrar uma academia de letras – no caso, a APL. A Câmara Brasileira do Livro (CBL) apoiou seu nome na eleição do dia 27.
Mauricio de Sousa e livro do Horácio, seu alter ego
Reprodução
Nos bastidores, o filólogo Ricardo Cavaliere é o favorito à cadeira 8. O imortal Paulo Coelho, por exemplo, declarou voto em Mauricio. “Caso Mauricio de Sousa resolva levar até o final sua candidatura para a ABL, ele pode ter certeza do meu voto. O momento é agora.”
Veja a entrevista com o escritor:
O senhor ficou abalado com a crítica?
Absolutamente, não. Fiquei até assustado com a dimensão que tomou pela repercussão positiva. Significa que não errei tanto.
Quadrinhos são literatura?
São revolucionários porque ficam entre a literatura e as artes gráficas. Eisner [Will Eisner, quadrinista norte-americano] me fez sentir que a linguagem dos quadrinhos é uma revolução de ideias. E com os quadrinhos tudo é possível.
Como foi sua visita à ABL?
Foi muito bonita. Fui recebido pelo presidente da Academia, muito simpático. Pedi licença e entreguei um volume recém-lançado do Horácio. Um dos acadêmicos me surpreendeu com uma ilustração que fiz e já não lembrava. Os imortais falando o nome dos personagens que criei, foi lindo.
Nas redes sociais, uma leitora disse que nenhum dos candidatos criaria um personagem com a complexidade do Cebolinha.
Ele tem muitos planos infalíveis e faz muita confusão. Personagens são como pessoas, têm suas características marcantes, também mudam com o tempo.
Qual personagem foi o mais mencionado na sua visita à ABL?
O Cebolinha.
Dizem que nenhum autor movimentou tanto uma eleição na ABL. Algum comentário?
Isso não posso provar, mas quer dizer que meu trabalho provoca alguma reação nas pessoas.
Mauricio de Sousa: obra do cartunista chega a 30 países.
Claudio Belli/ Divulgação MSP
E as novidades?
A história da minha vida vai virar filme. E o Martin, meu neto, está cada dia mais esperto.
Mais de 60 anos de histórias
Mauricio de Sousa quebrando a quarta parede
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Horácio é o alter ego de Mauricio. Apenas ele desenha e escreve histórias do personagem. Com o Horácio, aprendeu que conseguia criar por instinto. “Começava a desenhar e não sabia como terminaria. Magia que só a literatura proporciona.”
Em 2022, a Mauricio de Sousa Produções (MSP) vendeu mais de 12 milhões de gibis e mais de 2 milhões de livros.
Quem convive com o pai da Turma da Mônica sabe que Mauricio é determinado. “Ele quebra paredes há décadas”, brincou Sidney Gusman, editor da MSP.
Fonte: G1 Entretenimento