Karol Chaves, candidata ao governo do Tocantins, é entrevistada na TV Anhanguera

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Ela é a primeira a participar da série de entrevistas que está sendo realizada pelo Jornal Anhanguera 1ª Edição. Confira na íntegra a entrevista da candidata ao governo do Tocantins Karol Chaves (PSOL)
A candidata Karol Chaves (PSOL) foi entrevistada ao vivo durante o Jornal Anhanguera 1ª Edição desta segunda-feira (12). Ela está na disputa ao governo do Tocantins e foi a primeira a participar da série de entrevistas que está sendo realizada pela TV Anhanguera nesta semana.
As entrevistas ao vivo serão realizadas entre os dias 12 e 16 de setembro, com os cinco candidatos mais bem colocados na última pesquisa ao governo divulgada pela emissora. O tempo de cada entrevista será de 15 minutos. Veja o cronograma:
12/09 – Karol Chaves (PSOL)
13/09 – Paulo Mourão (PT)
14/09 – Ronaldo Dimas (PL)
15/09 – Wanderlei Barbosa (Republicanos)
16/09 – Irajá (PSD)
Entrevista de Karol Chaves
Candidata ao governo do Tocantins Karol Chaves (Psol) é entrevistada no JA1
Reprodução/TV Anhanguera
Karol Chaves, de 41 anos, é advogada especialista em direitos das mulheres e pessoas LGBTQIs, e mestre em desenvolvimento regional. Ela foi entrevistada pelo apresentador do JA1, Thiago Rogeh. Confira a entrevista na íntegra:
Apresentador – Esta é a primeira disputa eletiva que a senhora participa. Logo na estreia, a senhora se coloca tentando ocupar o cargo mais alto, mais importante do estado, que é de governadora. Quando questionada sobre isso a senhora tem dito que cargos públicos são para todas as pessoas, que tem experiência como assessora jurídica em órgãos públicos e que pretende acabar com o que chama de ‘familiocracia’, que é a permanência no poder de um mesmo grupo político. Como que a senhora pretende convencer o eleitor de que está preparada para este cargo?
Karol Chaves – Quero reforçar que a política é para todas as pessoas e neste momento, desde 2018, a gente vem em uma perspectiva, principalmente o PSOL, de dar oportunidade para as mulheres, principalmente mulheres negras ocuparem cargos. Neste sentido, porque eu sou preparada porque já passei por órgãos executivos e também tenho uma preparação na academia, de políticas públicas.
Eu já passei por um mestrado em desenvolvimento regional, conheço como são construídas as políticas públicas, já trabalhei na Secretaria de Segurança Pública como o trabalho de desenvolvimento de políticas públicas de segurança. Então eu entendo que a política não deve ser sempre para as mesmas pessoas, os filhos, filhas e netos das pessoas que estão aí.
É necessário que as pessoas saibam e sintam que este também é o lugar delas. Eu tenho feito essa convocação para que as pessoas participem de postos políticos, sejam eles eleitorais ou não.
Apresentador – Uma das suas propostas de governo, no seu plano, é sobre o endividamento das famílias. A senhora estabelece medidas para reduzir juros, um plano emergencial para reduzir essas dívidas, ampliando prazos de carência. A senhora chega a dizer sobre perdoar dívidas parciais de desempregados. Que dívidas a senhora está pretendendo perdoar e qual o impacto que isso pode causar?
Karol Chaves – Quando destes últimos dois anos, principalmente de 20 e 21, a gente teve o superendividamento das famílias aqui no Tocantins por conta da pandemia, porque os empregos, não só por isso, a gente vinha de uma precarização do trabalho aqui no estado. Por mais que o governo anuncie que houve um aumento dos postos de trabalho, a indagação é que tipos de postos de trabalho são estes? São trabalhos realmente dignos?
Porque se a gente for olhar em uma perspectiva da reforma trabalhista a gente tem uma precarização muito grande dos trabalhos. Estas pessoas estão ganhando um salário mínimo que mal dá para sobreviver. A gente tem um plano emergencial que favorece essas pessoas que estão mais vulneráveis. Para, além disto, a gente sabe que o Tocantins tem mais de 70% da população negra em uma situação de muita vulnerabilidade, muitas pessoas passando fome e é impossível que estas pessoas não tenham o que comer e tenham que pagar altos juros.
Apresentador – Mais quais são as dívidas que a senhora pretende perdoar?
Karol Chaves – Nós temos dívidas com o poder público, por exemplo. Dívida ativa e execuções fiscais. É importante que a gente faça não o perdão em um primeiro momento, mas que elas sejam negociadas. As pessoas estão superendividadas, não falo só dessas pessoas mais vulneráveis, pessoas da classe média também. Essa pandemia atingiu sobremaneira muitas pessoas. A gente tem uma situação em que o nosso poder de compra diminuiu muito. Então, não atinge só as pessoas que estão em uma situação de vulnerabilidade e passando fome.
Apresentador – A senhora pode dar um tipo de dívida que a senhora está pretendendo perdoar? Um exemplo.
Karol Chaves – Nós temos juros com relação aos fomentos aqui no Tocantins. Pessoas que estão em uma execução fiscal e não têm como pagar, servidores que fizeram empréstimos e não tem mais margem para fazer esse pagamento. Então, é preciso não só que haja uma negociação, mas que esses juros sejam perdoados.
Apresentador – Perdoar isso não pode talvez incentivar com que a pessoa fique esperando essa medida e não honre com seus compromissos?
Karol Chaves – Talvez se a gente tiver um enxugamento da máquina, que poder ser outra pauta que a gente pode falar, a gente hoje tem um inchaço da máquina pública com um grande número de contratações. Por exemplo, no momento em que o Marcelo Miranda sofreu o impeachment a gente tinha entre 16 e 18 mil comissionados.
A máquina pública estava muito inchada. Hoje, esse número é de 32 mil, praticamente. Então, a quem nós estamos favorecendo no estado? Os deputados têm pessoas trabalhando em cargos comissionados, contratados e continuam exercendo seus votos de cabresto ou as pessoas que realmente são trabalhadoras, servidoras efetivas, e que precisam de oportunidade para colocar sua vida financeira em ordem?
Apresentador – Seu plano de governo estabelece medidas para a população LGBTQIA+. O IBGE divulgou neste ano que o Tocantins tem o menor percentual de homossexuais e bissexuais declarados. O próprio IBGE diz que esse número pode ser subnotificado pelo medo dessa declaração. A minha pergunta é como a senhora vai dar mais segurança e visibilidade para essa comunidade?
Karol Chaves – A gente precisa colocar em prática algumas políticas públicas que deveriam ser executadas e não são. Por exemplo, essa pesquisa do IBGE, a pessoa tem que se declarar, não está sendo feita a pergunta. Então a gente já tem um erro muito grande que gera essa subnotificação.
Quando a pessoa vai fazer uma ocorrência, o registro de ocorrência na delegacia, por exemplo, muitas vezes a sua identidade, a sua orientação sexual não é perguntada. Então, é preciso que os servidores públicos sejam capacitados devidamente. Muitos deles já são, mas não conseguem, por conta do moralismo ou da sua dificuldade em executar a atividade achando que está cometendo um tipo de invasão na vida privada, deixam de fazer essa pergunta e a gente deixa de ter dados não só na segurança pública, mas também na saúde e na educação. Isso ocorre corriqueiramente não só na segurança pública, mas também na saúde e educação.
Apresentador – A senhora prevê no seu plano de governo também o uso do nome social e banheiros adequados à identidade de gênero nas escolas. Esse é um tema sensível. Por um lado, essa medida pode beneficiar a criança que não se sente representada, mas do outro você tem uma família mais conservadora que é contra. Como a senhora resolve essa controversa e implanta essa medida?
Karol Chaves – O nome social deve ser usado independente a escola queira ou não. Já é uma lei, já está estabilizado. Então, independente dos valores daquela escola, dos valores daquele servidor público pessoal, ele precisa ser usado não só na escola, mas também na saúde. Então, as pessoas precisam cumprir o que é determinação legal.
Sobre os banheiros a gente sabe que existe uma dificuldade muito grande, por conta também do conservadorismo no Tocantins, de implantar essa medida. No entanto, a gente precisa pensar não só naquelas pessoas conservadoras, mas em quem está realmente sofrendo. A gente tem um grande número de evasão escolar por conta de pessoas trans, jovens trans que são constrangidos, que são violentados na escola porque não conseguem usar o banheiro.
Então, uma medida tão simples, tão básica. A gente não precisava nem estar discutindo isso porque nós estamos em 2022. É inadmissível que a gente impeça uma pessoa de usar um banheiro. Por isso, ter um banheiro um pouco mais adequado para essas pessoas se sintam mais à vontade e a gente não tenha tanta evasão escolar dessa comunidade que infelizmente não tem nem direito à educação por conta desse tipo de violência que acontece em sala de aula.
Apresentador – Uma das medidas no seu plano de governo para manter o aluno na escola é uma bolsa de R$ 440 para os estudantes de 16 a 21 anos que são de família que recebem até três salários mínimos. Candidata, de onde vai sair esse dinheiro?
Karol Chaves – Eu reforço que a gente tem esse dinheiro. A gente só precisa enxugar um pouco a máquina, no sentido de que nós temos um número exorbitante de contratações. A gente precisa fazer concurso público, principalmente na área da saúde, educação e segurança pública. Se a gente fizer o balanço dessas contas a gente consegue dar melhor qualidade de vida para as pessoas que mais precisam, que são esses jovens que têm dificuldade de frequentar a escola muitas vezes porque não tem condições de comer, não tem condições de se deslocar.
Então, se a gente tirar os recursos de onde eles não deveriam ir e colocar para a onde deveria ir, que é para as pessoas mais necessitadas, a gente consegue dar educação para todas e todos.
Apresentador – O IBGE divulgou que nós temos 64% de negros desempregados, isso no primeiro semestre de 2022. Cerca de 70% da população do Tocantins é negra. O seu plano de governo estabelece o fim do desemprego, do subemprego e da precarização do emprego para a população negra. Como é que a senhora vai fazer isso?
Karol Chaves – A gente precisa primeiro dar educação, condições de essas pessoas terem uma formação técnica. Quando eu falo que 70% da população é negra, são dados que não são recentes, já tem um tempo esses dados. A gente tem uma população, só a título de exemplificar: a população negra no Tocantins é composta de pessoas pretas e pardas. Então, a gente sabe que o racismo estrutural é mais contundente para as populações pretas, mas a população negra do Tocantins precisa de condições de trabalho.
E aí também é preciso olhar para as pessoas indígenas. Não posso me excursar de falar desse tema porque a gente tem um estado que é território negro e também é território indígena. É preciso que essas pessoas tenham formação técnica. Muitas destas pessoas não conseguem acessar o ensino superior. As que conseguem muitas vezes tem dificuldade de se manter no ensino superior. Falo não só da Unitins, mas também da UFT. Se essas pessoas tiverem uma melhor formação elas podem ter um emprego que é diferente do subemprego e diferente do emprego que é precarizado.
Então, a ideia do plano de dar mais emprego para essas pessoas é capacitar. Ter polos de capacitação no estado, não só em Palmas, mas também nas três regiões do Tocantins para que a gente tenha maior qualificação e não seja necessário trazer mão de obra de fora. As pessoas vêm de fora para trabalhar, as empresas muitas vezes contratam pessoas de fora para trabalhar quando poderiam contratar aqui e a reclamação é sempre a mesma: não tem mão de obra qualificada. É dever do Estado fazer a qualificação da mão de obra do Estado do Tocantins.
Apresentador – A senhora também está prevendo o desencarceramento das mulheres condenadas por tráfico de drogas, retirar essas mulheres da cadeia. A gente tem dados da segurança pública de que 128 mulheres estão presas por causa desse tipo de crime. São 90 por tráfico de drogas, sendo que 72 foram julgadas e condenadas. Outras 56 estão aguardando por julgamento. Qual que vai ser o critério para liberar essas mulheres?
Karol Chaves – Quando a gente faz visita nas unidades prisionais a gente percebe que a maioria das mulheres está encarcerada por tráfico de drogas. A gente chama isso de feminização do cárcere também. Neste sentido é importante que não só os advogados, o poder judiciário, mas também a Defensoria Pública, tenham um olhar muito sensível para que estas mulheres não passem mais tempo na prisão. O que acontece muitas vezes é que elas já poderiam sair e ficam cumprindo um tempo a mais naquela situação por conta de um descaso, de um abarrotamento do poder judiciário também.
Então é importante a gente olhar para essas mulheres. Muitas delas são mães e poderiam estar em uma situação diferente também. Se são presas provisórias poderiam estar cumprindo em casa e não estão porque estão desassistidas ou abandonadas juridicamente como a gente fala. É importante a gente olhar para esses casos com mais detalhamento.
Apresentador – Seu plano de governo também prevê uma alta taxação do agronegócio, que é um dos setores que mais movimenta a economia do Tocantins. Porque fazer isso?
Karol Chaves – Veja que o agronegócio tem um amplo espectro. Os grandes produtores precisam ser mais taxados porque a comida que vai para a nossa mesa não é a comida que os grandes produtores produzem. Os grandes produtores produzem para exportação. É uma comida que não chega à mesa do tocantinense. A comida que chega à nossa mesa é a comida do pequeno produtor e do médio produtor. Então é importante que gente valorize esses produtores e taxe mais os grandes produtores porque eles também recebem mais, o lucro deles é muito maior.
É importante salientar, e eu tenho feito isso, de que o agronegócio dos grandes produtores não beneficia as pessoas tocantinenses. Esse dinheiro não fica no Tocantins, muitas vezes ele vai para grandes empresários que têm terras aqui e a gente precisa rever.
Apresentador – A senhora tem um minuto para as suas considerações finais.
Karol Chaves – Eu queria me colocar à disposição dos eleitores e eleitoras que queiram conhecer um pouco mais o meu plano. Essa é uma candidatura da única mulher aqui, uma mulher negra, que está aqui no Tocantins há mais de 30 anos. Eu conheço essa realidade, tenho enfrentado dificuldades como você que está em casa me assistindo, sou uma mulher comum, já tenho falado sobre isso. É importante que esse espaço da política não seja só para as mesmas pessoas, seja para você também. Não falo apenas de política partidária, falo de uma apolítica de participação das pessoas na construção de políticas públicas. É importante que a gente tome a frente. Então, eu faço essa convocação para você que está me assistindo, tenha esse voto de confiança em uma pessoa que é preparada, vote Karol Chaves, vote 50.
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Fonte: G1 Tocantins